19/10/2013

TÁTICA OU ESTRATÉGIA

Nas minhas realizações nada é finalizado. Tudo termina com um etcétera... e, na continuidade parece que as coisas dão certo. É como se incertezas acontecessem num “campo unificado”. Chego a observar isso no meu cotidiano. A vida é plena de abstrações, o que desafia nossa intuição. O todo passa a ser maior que a soma das partes. A ideia é um pensamento, vale quanto pesa. No meu caso, a sensação é de que se vive em fragmentos. Cada um, como “pedra de roseta”. Peça do quebra-cabeça que orienta todo o resto.
Por vezes, quem usa o meu computador se queixa da lentidão dele. Tudo está indo rápido demais no mundo de hoje. Parece que agora a velocidade aumentou. Uma loucura. Para mim, os compassos lentos do PC são também os meus. Chegam a descontrolar pessoas do meu convívio.
Curioso o que ocorre no jogo de Tranca. Sei que adversários precisam se arvorar de paciência quando jogam comigo. Quando um começa a ganhar, só recebe cartas boas; o contrário ao perder. Será que o jogador entra ou sai de um “campo unificado”? Na partida, pelo desejo, a gente coloca a isca no anzol. Aproveito essa imagem, do mestre da meditação transcendental e grande cineasta David Lynch, para pescar grandes peixes. Estes se encontram em águas profundas. Você pode ganhar o jogo ao chegar lá.
Necessário expandir a consciência, ou não se atinge o “campo unificado”. Isso acontece mais pela intuição do que pela razão.
A expressão “campo unificado” é da física moderna. CA ajuda no desenvolvimento da consciência. Liga inconsciente e consciente, ponte em que se é si próprio. Estado disponível a qualquer um. A ciência dá um passo à frente, acrescentando que se pode usar uma parte mais ampla da mente. É quando a criatividade realmente tende a fluir.
O “campo unificado” da física quântica foi uma grande descoberta. Não é o conhecimento intelectual do campo que opera as coisas, mas a vivência dele.
Tática é o posicionamento que abrange o ataque (estratégia). Imagine qualquer jogo. Num time de futebol, o conjunto dos jogadores interagindo é mais importante do que a preocupação com resultados, ou seja, fazer gols. Com tática, mais fácil gerar um “campo unificado”. Cuidado! Lidamos com incertezas, não com simples causa e efeito. Prevalece a circularidade... Dá pra entender?
Vamos a um fato intrigante. Fizeram um muro que me separa do sol. Casa ao lado da minha, recentemente construída. Hoje, vou aprendendo a conviver com esse muro. Com a interferência da minha mulher, ele vai se tornando belo e bom. Plantas escolhidas já cobrem parte do muro. Penso em transformá-lo em suporte para criações artísticas (pinturas, esculturas). Aqui entra o etcétera...
Tudo que nos rodeia pode se transformar em mais “nós”. Lembro de besteiras que fiz no jogo de Tranca, mas que não comprometeram o resultado. Outras foram terríveis. Sentir que fazemos parte de um todo bom e belo é uma riqueza.
Cada fragmento construído por você é como ideia – a coisa inteira. Dá para ficar sabendo o que se quer saber. Ela (a ideia) se parece com o que parece ser, você sente o que ela sente, soa como ela soa, você é o que ela é. Fazer o certo, sentindo que está certo.
Trabalhei em comunidade terapêutica para usuário de drogas, sendo acusado pela direção de, em tudo, fazer o que agride a razão. Quando declarei, em conversa informal, que escrevia um romance, o diretor-psiquiatra disse: “Tudo o que você faz é ficção”. Quando não acreditam em você o chamam de guru, poeta, louco... Não sei se não acreditam mesmo ou se não querem se deixar influenciar. As palavras do médico soaram como chiste, dito espirituoso.
Agora leio um psicanalista que admiro: “Quer escolher um psicanalista ou um psicoterapeuta? Verifique se ele lê literatura”. Referia-se a ficção, de preferência romances. Em sua matéria, publicada na Folha (17.10.13), Contardo Calligaris citou pesquisa que saiu na revista “Science”: “Ler ficção literária melhora a teoria da mente (grifo meu). “Teoria” significa “visão”. Até para dialogar e decidir sobre soluções racionais. Os leitores de ficção literária enxergam melhor a complexidade do mundo e da vida. É um jeito, inclusive, de se precaver contra neuroses. O que importa não é o que se leu no passado, mas o que se está lendo. Ficção literária, não a popular. A literária nos mobiliza para entender a experiência dos personagens. Na ficção popular tudo tende a ser mais consistente e previsível. O texto literário pede maior esforço de interpretação, com personagens mais autênticos e próximos do cotidiano vivido. Somos ambíguos, abertos e repletos de significações secundárias. Não conhecemos profundamente ninguém, nem a nós mesmos.


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