
Que o mundo está em crise não há a menor dúvida. Que a crise é de valores (paradigmas) também é certo. Atitudes, comportamentos constituem a substância daquilo que o homem faz de certo ou errado. É o concreto nas ações. Em nosso caso – pensando no homem ocidental –, a grande transformação terá que acontecer na mente individual. É quando o grão de areia se transforma em monte de areia, como se diz. Num esforço para ir aclarando as coisas temos condicionamentos culturais desde que nascemos. Introjetamos valores, conceitos, atitudes, comportamentos de pais, avós, ascendentes. O que inclui preconceitos. Tudo neste social em que a imitação é a lei infalível. Imaginem a carga inconsciente que carregamos. O orador gritava numa palestra, momento de altercação: “A opinião é sua, é sua, é sua... ou é do sistema?!” Muito herdamos da atitude científica, o que tem a ver com o princípio da causalidade. Nele, a base de nossa ciência. É considerado uma verdade axiomática (aquela que não precisa de comprovação). Com a palavra Jung: “O que denominamos leis naturais são meramente verdades estatísticas que supõem, necessariamente, exceções”. A física moderna realiza grande mudança. Entra o acaso e a noção de incerteza.
Além da causalidade haveria um outro princípio? Como explicar acontecimentos no espaço e no tempo, significando mais do que mero acaso, onde há interdependência de eventos objetivos entre si. Por exemplo, a madeira de um móvel estala; aí eu digo: vai estalar outra vez; no mesmo instante ocorre outro estalo... Isso aconteceu num diálogo entre Jung e Freud, quando Jung falava sobre o princípio da sincronicidade, não aceito por Freud. A característica peculiar desse fato só serve para ilustrar o que já ocorreu no cotidiano de muitas pessoas. Haveria um método para se explorar a riqueza de nossas reservas subjetivas? A consciência ocupa um pequeno espaço na grande esfera inconsciente. Tenho um depoimento a fazer sobre a lei da sincronicidade. É com relação ao método que pratiquei nos meus 40 anos de magistério. Professor de filosofia e artes, muitas vezes arejei o aspecto especulativo com algo prático, presente na vida de todos nós. O I Ching é um livro que se propõe como algo vivo. Ele está mais ligado ao inconsciente do que à atitude racional da consciência. Em todos os níveis de ensino (fundamental, médio, superior) vivi experiências “jogando” o I Ching, com meus alunos, amigos, parentes, colegas, funcionários de escolas. Graças ao instrumento criado pelo meu mestre G.W.G. Moraes, abria um mapa dos hexagramas seguindo as indicações do consulente (norte, sul, leste, oeste). Aí interpretava o texto de forma intuitiva. Diria que no grande número de casos o resultado foi positivo, com a satisfação de quem consultava. Era fiel à condição psíquica da pessoa, eu sempre desconhecendo a pergunta oculta. A forma utilizada, diferente do ritual de varetas de milefólio ou moedas, tornava a prática mais simples e rápida. Daí as filas que se formavam nos intervalos de aulas. Moraes procurou desfazer a aura mística, tornando esta espécie de oráculo, mais adequado ao fluir cotidiano. Todos temos um ponto cego psicológico que o I Ching desvendaria. Ele insiste, a todo instante, no autoconhecimento. É uma forma de se atenuar o tropeço de repetidas vezes, em virtude de nosso preconceito, prevalecer a noção marota da causalidade.
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