
Acordei depois de um sonho em que, dentro de uma dessas sacolas verdes de plástico, estavam dois seios, recém-cortados. Imaginei uma jovem sendo estuprada, assassinada e com os seios amputados. Pego matéria de Luiz Felipe Pondé, na Ilustrada da Folha (14, último): “Ontologia leviana dos seios”. Sincronicidade? De manhã cedo, depois do sonho, antes de ler o artigo do Pondé, escrevi narrando o que me restou da memória. Aprendi com Jung que não vale a pena querer interpretar sonhos. É registrar simplesmente, datando-os. Além da imagem desse polo estético, acontecia de pequeno aparelho, do tamanho de um mini-DVD, como se estivesse motorizado, subir por si a rampa da minha casa. Voltando à matéria do jornal, Pondé fala nos niilistas (estes que não crêem na metafísica), dando sua contribuição (a deles) para que se artificialize a beleza do corpo. Claro que o que se buscaria é uma natureza “natural”. Diz Pondé: “Com a morte de Deus (símbolo máximo da morte da metafísica), o corpo velho é apenas um corpo feio e decadente”. E continua: “Se Deus não existe, toda beleza artificial é permitida... Logo [a pontuação é minha], viva o silicone”. A existência dos seios (imagino-os naturais) morreu; a metafísica morreu; a natureza “natural” também morreu. O mundo da matéria dos niilistas (ou materialistas) é, nos dizeres de Pondé: “impermanente, vago, impreciso, e, acima de tudo, dolorido”. Será que a moça, dona dos seios, se sentia infeliz por eles serem belos demais? Ainda mais num mundo em que máquinas andam sozinhas? Sincronicidade – meu sonho e, em seguida, a leitura do artigo – na relação com um cotidiano sequencial em que dias antes na postagem “Sinto, logo existo” (ipansotera3, 14-11-2011) falo sobre espíritos. Espíritos, metafísica (“ciência” segundo a qual existiria um mundo de formas eternas e plenas, invisível aos olhos, mas visível ao “espírito”). Qual a postura dos niilistas, diante não só das imagens, mas da energia dos próprios sonhos?
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