Ipansotera é um blog de pensamentos. Mesmo em recados há a intenção de promover uma interação reflexiva. Não existe fundo ideológico fechado. O conteúdo são vislumbres de quem vê a vida como aprendizagem do espírito. O autor acredita na interatividade mais do que em afirmações inatistas e comportamentistas.
25/02/2011
DOIS OU TRÊS
Durante anos aceitei o “dois” como o mais simples e abrangente. Sabemos que a consciência humana tende a buscar o complexo que complica as coisas. Ser “simples” é difícil. A alimentação orgânica, mais simples, sem ácidos e aditivos prejudiciais, é explorada pelo mercado oportunista. Alimentos caros como bens dificultosos, para poucos consumidores, talvez mais lúcidos. O “simples” e o “difícil”... Qual você prefere? Como dizia Platão, com a dicotomia se atinge a multiplicidade do real. O dois é simples. Jung fala: A vida flui na dualidade. Todos conhecem o papel do feminino e do masculino na filosofia e na cultura orientais. Cultura, em tudo (alimentação, medicina, lutas, na linguagem das coisas e das teorias). O dois e o sete da “Programática” de G.W.G. Moraes. A dialética sem síntese de Merleau-Ponty (aqui se resolve o mito da felicidade). O sete, em Moraes, se referindo a áreas e níveis de ação e conhecimento, forma de se represar a realidade e se comunicar melhor. O povo faz provérbios e canções: um é pouco, dois é bom, três é demais. Há sabedoria nisso. “Gente que sente que um barracão prende mais que um xadrez” (Noel). A questão de reduzir tudo a dois... A arte entra aqui, encontrando resistências. A arte e os artistas, ainda vistos como marginais. Sinto que a arte precisa do “três”. Lembro minha amiga psicóloga que defende o três: Tudo se constrói com o três. Penso: No chão, duas rodas não permanecem de pé, a não ser com um apoio. Aí já são três. O três é o cajado para as duas pernas do velho andarilho. Apoio, defesa, ataque, consolo. Nas artes temos o representativo e o significativo... certo que interagem. No significativo vejo o “três”. Figura, fundo e algo mais. Três é também transcendência. Exemplo recente: torcidas de futebol praticam a clivagem, com suas escolhas maniqueístas. Se tudo vai bem, aplaudo; se não, malho. Âmbito da paixão. Superficial, não? Sem além, fé na transcendência para quê? Aceitar quem foi um ás, quando fraqueja, resta-lhe o limbo. Só quando chora ao pendurar as chuteiras é que o glorificam. No dois, abrangente e agente, optar só por um ou outro não basta. Se a pessoa erra na escolha, vem o tampão. Exclusão, demissão, depressão. É como dizer: a vida fatual não basta... A duras penas se percebe isso. Na arte entra o imaginário, a intuição. O dois não seria a estratégia para se chegar ao três? O três viria depois da morte, é a tática, quando literalmente se penduram as chuteiras ou anuncia-se o renascer. Sou otimista? Minha escrita é o três.
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