A minha maneira tangencial de dizer o que penso e sinto envolve o diagnóstico de formas de vida decadentes e formas de vida ascendentes. Nas artes e na ficção enfoco as relações entre ética, vida e “vontade de compreender”. Nesse sentido, a psicologia deve evitar os próprios preconceitos.
Nosso tipo de humanidade de hoje é mais decadente do que aquele do Renascimento ou da Grécia de Heráclito. Hoje se é mais consumista e beligerante do que antes. Parece até saudosismo dizer isso. Como se os mundos da época pré-socrática e da tragédia grega, anterior a Cristo, e o do homem polivalente da Renascença estivessem para nós sensorialmente presentes. Tudo uma questão de espaço/tempo, mas o evidente hoje é a comunicação global acelerada, graças à Internet, e o crescimento da violência a partir da facilidade em se conseguir armas de destruição e apertar botões. Violência incrementada pelos fundamentalismos na religião e na política além da concentração de todo tipo de poder (sobre bens, ideias, pessoas). O homem vai sendo condicionado cada vez mais a se tornar um “animal de rebanho”. A técnica chega a gerar um conformismo apático. Prevalecem valores do conforto, do ter, do acumular e do repetir comportamentos. Pressa no que se faz e pelo que se obtém num clima pouco motivador para a reflexão e a busca de significados. A moda tende a ser preferida com relação à arte, à inovação e ao sonho. O homem é mais indivíduo do que cidadão protagônico. “Rebanho”, como fruto da ética presente nas relações sociais e nos negócios. Animalização da pessoa travestida em bicho inferior de direitos e exigências. Insisto na oposição entre a “vontade de compreender” e a “vontade de poder” em uma sociedade cuja principal estratégia é a burocrático-hierárquica. Individualismo e competição são consequência do industrialismo que tudo invade (Toynbee). O ambiente é propício para a dicotomia vencedor/perdedor, numa forma de viver em que a quantidade substitui a qualidade. Ser forte e perspicaz, mesmo pisando em ajudantes e servidores é mais do que uma aspiração. Levar vantagem em tudo como modus operandi. Claro que daqui decorre o incremento da violência e a perda do melhor sentido do existir.
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