A Programática de G.W.G. Moraes buscou em
obras da antiguidade clássica (biblioteca digna desse nome), noções que dão
destaque à dicotomia para a compreensão da multiplicidade do real. Entram aqui
Ocidente e Oriente. Platão aceitava a prevalência da dualidade, também
enfatizada por Nietzsche e Merleau-Ponty. A vida caminha através de paradoxos,
opostos interativos, pensamento de Jung que postulava sobre a existência de
dois polos que se defrontam. A interrelação entre eles, embora antagonistas,
contribui para o equilíbrio psíquico. Como não há brilho inteligente sem sombras,
não basta esta dualidade. Picasso demonstra, da Renascensa ao Cubismo, como o
elemento “três” é importante. Um tripé é melhor base para manter a máquina na
vertical. “Dois” para sustentação exigem apoio que também provém de um motor em
movimento. Então, resta discernir na escolha das unidades, sob pena de desvario
e insegurança. Firmeza para baixo e largueza de sentimentos e ideias. A Programática
aceitaria o elemento “três"? Caso contrário, ou se acerta ou erra. A
dúvida, naturalmente, é algo menos autoritário. Por outro lado, no sistema de Moraes
a intuição mandálica tinha sensível destaque. Compensaria a radical dicotomia. Pergunto: como ficam as graduações de luz e sombra, de
superfícies com relação a linhas e pontos? Risco de se cair num maniqueísmo estético,
como se sujeito e objeto, eu e outro existissem separados. A própria clivagem
do certo e do errado é discutível na medida em que exalta a percepção habitual,
objetiva e cristalizada. Em Leonardo da Vinci a percepção é mais aberta e mais
ampla. Confiança maior nas sombras do que nas linhas de contorno, para o entendimento.
Conteúdos, relacionados a formas, ideias, teorias. A natureza em si – independentemente da maneira
como nossos olhos a concebem – não possui limites precisos. Pontos e linhas são
constructos matemáticos, sem presença física. Algo imaginário, desprovido de
matéria e substância, existe como projeção. Não ocupa espaço. Luz e sombra são
o que melhor representa a forma e o volume dos objetos e seres. O humano entra
aqui. A ver com isso o sfumato, técnica
que, em Leonardo, representa a realidade com mais precisão. A Mona Lisa, bom exemplo. Nas relações interpessoais
penso na Gestalt, comparando-a à percepção
que não se perde em nomes, medidas e detalhes, preferindo o mais totalizante. Ninguém se conhece, e muito
menos sabemos tudo sobre pessoas animais e coisas. Do geral se chega ao
particular. Leonardo, ao borrar os limites entre arte e ciência, realidade e ficção,
experiência e mistério, pretendia chegar ao essencial do visível.
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