21/06/2018

LUZ E SOMBRA



O nome que se dá a uma obra...  Qual a relação com o consciente do autor? Muitas vezes só existem sombras, quando há luz. Diferentes tipos de luz geram diferentes tipos de sombras. O título de um livro meu, publicado em agosto de 2007, pela editora Garatuja (Atibaia, SP) – Ecos e Sombras. Cheguei a pesquisar sobre  razões  do nome dado. Sombras, em Jung possui aspectos negativos e positivos. “O homem inconsciente, precisamente a sombra, não é composto apenas de tendências moralmente repreensíveis, mas também de um certo número de boas qualidades, instintos normais, reações apropriadas, percepções realistas, impulsos criadores, etc.” Sobre motivos mais ou menos conscientes ao atribuir o nome do que escrevi, Ecos surge como expediente de abertura na modelagem de pensamentos. . . Aqui já me sinto à luz da importante obra de Walter Isaacson, Leonardo Da Vinci. Os efeitos de luz e sombra nos desenhos e pinturas do artista são objeto na interação entre arte e ciência. No que ele observava e praticava, sombras eram o segredo para modelar objetos tridimensionais. O humano, a natureza e o divino consistiam em importante tripé, base de sua teoria. Linhas são conceitos surrados aprendidos ao longo da vida. Estão no plano circunstancial, aí nos prendendo. Têm a ver com o costume de estar sempre dando nome às coisas. Não às coisas em si mesmas, mas nas aparências. O dito de Nietzsche de que não há fatos, só versões, me vem a propósito. Linhas, muito menos nos servem para alcançar a transcendência.  Ecos e sombras, luz e sombras. É com a luz que o espírito se fortalece no tridimensional. Só na polaridade binária chega-se a perder a dimensão mais estética do sentimento e da arte. Sombras reproduzidas de forma adequada são de suma relevância para que se alcance  outras perspectivas fora do trivial. Ao depender de linhas, espíritos em corpos sólidos e opacos ficam mal definidos. Essências espirituais podem ser melhor percebidas através de sombras. Assim surge uma ruptura com julgamento e práticas comuns. Insisto que linhas possuem nomes, nos afastando de conteúdos mais essenciais.  Para o entendimento, ou relações de autenticidade, face a contornos temos as sombras. Linhas são explicativas. Na ótica do cineasta Fellini, explicar é uma forma de fascismo. Linhas não participam de maneira mais intensa de conteúdos a serem explorados. Não adentram os fenômenos, daí a observação partir para o que se explica. Vira instrumento de poder, não de compreensão. Sombras possuem maior penetração no que se deseja entender e ainda revelam sutilezas. Observar conteúdos através de linhas, o mesmo que ter um véu ou um painel entre a coisa e o que representa ou significa. Tem mais a ver com a memória, parte artificial da inteligência. Com o tempo resta a essa parte da mente selecionar até o exagero o que “deseja” guardar. Num certo sentido, ainda bem, já que não pretendemos ser um baú de quinquilharias. Pena que tanta coisa boa também fica degradada. Sombras não admitem limites precisos. Pouco servem a quem pretende conservar e aumentar o próprio poder. Através de linhas imaginamos saber o que não sabemos. Linhas pouco auxiliam na ampliação da consciência num sentido mais transcendental. Nem para compreender evidências existenciais. Um espírito, cujá luz reflete vários ângulos, produz sombras de forma inteligente a distinguir importantes caracteres. Almas carregam forças unificadoras como guias. Tons de sombras e suas graduações como nas diversas categorias de espíritos. No meu livro, a variedade de sombras denota a variedade  de influências recebidas dos pensadores consultados. Influxo muitas vezes no acaso do caso. Há o que é primário, derivado, e resulta da luz ambiente;  ocorre o tingido  sutilmente pelo que se reflete (ecos), o composto (fontes de luz); o criado pela luz solar ou da alvorada, o filtrado por transparências e muitas outras variações. Existe um ponto em que a luz bate, sendo refletida de volta à fonte. Mistura com a sombra original... Ambas se juntam de alguma forma. A análise da cultura alimenta a literatura, assim como a literatura alimenta a análise da cultura.       

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