Você é uma pessoa para o mundo. O mundo sou eu. Imaginário, meu
abrangente; o real, agente. Sou um disfórico – ansioso, inquieto. Presença e
presunção para admiti-lo. Trabalho e criação... O que prevalece? Vivemos de palavras.
Palavras carregam imagens. Palavras e imagens constituem linguagens. Linguagens
têm a ver com ideologias. Quer a gente admita ou não sempre servimos a paradigmas
da esquerda ou da direita. Ser do Centro é piada. Por mais que resistamos a concebê-lo,
isso é rentismo (ambição por ter cada vez mais). Interesses os mais pessoais participam
do modus vivendi. Vantagens pessoais
e sociais, humanitários ou despóticos, atuam segundo a linguagem disponível no
momento. Palavras como “greve” e “locaute”, respectivamente trabalhadores que
cruzam os braços e patrões que disputam com sindicatos e governo impondo paralizações,
produzem impacto. “Greve”, excelente saúde no mundo das palavras; “locaute”, no
almoxarifado, sacudindo poeira. Sérgio Rodrigues, um mestre da língua, fala
sobre o papel da linguagem (Folha, 31 de maio último – “Brasil faz a crise
entrar em crise”). No artigo: “Toda crise política e social é uma crise de linguagem.”
Desde a semana passada é o que acontece no país. Continua Sérgio: “Mistura de
greve legítima com locaute criminoso? Salada mista de insatisfações difusas como
as que explodiram em 2013?” Na crise de linguagem ele alerta: “novas
formulações ainda precisam surgir para dar conta de papalvos [indivíduo simplório,
tolo] que pedem de joelhos ‘intervenção militar’ (olha a crise da linguagem de
novo, tentando nos vender esse eufemismo grosseiro para ‘golpe’)“. Ele conclui,
assinalando que “a crise da linguagem mora no coração de toda crise”. Pensando nos problemas de relacionamento com
o mundo e as pessoas faço analogias e encaro similitudes. Diria que a crise da
linguagem pelo menos se acoberta em cada indivíduo. Ao se libertar de fungos
oportunistas se espalha sobre a nossa carcaça e a dos políticos. Eis o que
prevalece.
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