03/06/2018

FUNGOS NA ALMA


Você é uma pessoa para o mundo. O mundo sou eu. Imaginário, meu abrangente; o real, agente. Sou um disfórico – ansioso, inquieto. Presença e presunção para admiti-lo. Trabalho e criação... O que prevalece? Vivemos de palavras. Palavras carregam imagens. Palavras e imagens constituem linguagens. Linguagens têm a ver com ideologias. Quer a gente admita ou não sempre servimos a paradigmas da esquerda ou da direita. Ser do Centro é piada. Por mais que resistamos a concebê-lo, isso é rentismo (ambição por ter cada vez mais). Interesses os mais pessoais participam do modus vivendi. Vantagens pessoais e sociais, humanitários ou despóticos, atuam segundo a linguagem disponível no momento. Palavras como “greve” e “locaute”, respectivamente trabalhadores que cruzam os braços e patrões que disputam com sindicatos e governo impondo paralizações, produzem impacto. “Greve”, excelente saúde no mundo das palavras; “locaute”, no almoxarifado, sacudindo poeira. Sérgio Rodrigues, um mestre da língua, fala sobre o papel da linguagem (Folha, 31 de maio último – “Brasil faz a crise entrar em crise”). No artigo: “Toda crise política e social é uma crise de linguagem.” Desde a semana passada é o que acontece no país. Continua Sérgio: “Mistura de greve legítima com locaute criminoso? Salada mista de insatisfações difusas como as que explodiram em 2013?” Na crise de linguagem ele alerta: “novas formulações ainda precisam surgir para dar conta de papalvos [indivíduo simplório, tolo] que pedem de joelhos ‘intervenção militar’ (olha a crise da linguagem de novo, tentando nos vender esse eufemismo grosseiro para ‘golpe’)“. Ele conclui, assinalando que “a crise da linguagem mora no coração de toda crise”.  Pensando nos problemas de relacionamento com o mundo e as pessoas faço analogias e encaro similitudes. Diria que a crise da linguagem pelo menos se acoberta em cada indivíduo. Ao se libertar de fungos oportunistas se espalha sobre a nossa carcaça e a dos políticos. Eis o que prevalece.

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