18/04/2018

O MANJAR, PRÓLOGO ETERNO



Ainda encontro amigos, de tempos idos, que me perguntam sobre o “Manjar branco no asfalto”. O “Manjar”, primaveras sem conta. Quinhentas páginas estrebucham num sumidouro. Necessário situação envolvente para despertá-lo. Enquanto isso vai se escrevendo o prólogo. O autor, titubeante. O livro, vivência dos  dia a dia. Atividades domésticas, o profissional improvisado, ora professor e facilitador de grupos, ora instrutor de tênis, ora técnico dramático em hospital psiquiátrico, ora criador de grupos de teatro, autor de adaptações, encenador e intérprete; questões de desrespeito aos  modos social-correto – logística familiar feminina... As durações aqui são elásticas, anos mais, anos menos, sempre pedagogo. Muita coisa procrastinada. Escrever todos os dias. A função de blogueiro assumida é boa desculpa para não pegar o “Manjar”. Tudo resume a tentativa de escrever. O  mundo não se renova segundo nosso tempo de estreia. A linguagem do “redigir é reduzir” (G.W.G. Moraes), hoje na forma de tuítes, motiva. “Manjar” é testemunho de uma época, familiar e social. Época de desejos mais do que de resultados produtivos. No tuitar, contribuição no ensaio de esquemas, reflexões, posições críticas e filosóficas. Redistribuição do que se vai assimilando. Emoção e razões, juntas. Ocorrem hipotiposes – conceitos de aparência ou não doutrinários. Na articulação generalizada e superficial pode-se notar clara intenção especulativa. Realidade e ficção, interagindo no presentemente atual. Ao se aspirar um esboço mais conclusivo, o interlocutor que se estabeleça. A autoria  como primeiro alvo. “Você se contradiz”, disseram. Resposta: “Por que não?” Hipotiposes não passam de rascunho de ideias a abalar as do crediário da razão.  A resistirem, páginas de um original em circunferência, acomodado.  O romance começou faz mais de duas décadas. Efetivo no início, a compensar fase de convalescença em que a pretensão era acatar a convivência com dores. Prolongada reflexão sobre o acontecido – desastre automobilístico em que quase se perde um braço. Hoje, o “Manjar”pode transformar-se em póstumo livro “cult”. Longo prólogo, até lá. Partes do prefácio em cadernos e blogs. Sugestões de técnicas literárias sorvidas aqui e ali. Mexer na coisa meio sumida, um possível no que é tão datado? Correções ao dorminhoco, grande em tamanho, incluindo o complemento de tuítes a respeito da  inédita corrupção na política atual . Livro não se corrige, abandona. Achar preciso mais espaço e tranquilidade para escrever, condição, sem a qual não se retomaria o “Manjar”. A atitude demonstra não aceite ao vivido tridimensional . Não se caminha em superfície plana e retilínea. O realizado  em artes visuais e literatura sobrepõe esfera e  quadrado. Os espaços são curvos, não se muda de  lugar em linha reta. Como nos encaixamos no mundo? Por trás das espirais, qual a matemática? Não gostar de comportamentos em massa, nem de ficar atacando este ou aquele, o que contraria mudos desejos (pelo menos mudos). O homem não é estável, como todo organismo vivo. Longe a condição dos quimicamente iguais. Cadáveres? Aliás, nem estes “vivem” na imobilidade. Ficar longe do assunto politiquice, quando somos também responsáveis pelo que acontece na sociedade, leva a ir atrás da vasta rede de relações – a “teia da vida”. Para compreendê-la não bastam “porquês”. Estruturas se mostram através do “como”.  Investigação quanto a propósitos, princípios, artes e ciências, humanidades e tecnologias. As obras da natureza, interligadas, interagem. Formam uma unidade multifacetada, plena de padrões a serem reconhecidos. Não adianta pretender estar num patamar inconsútil, com metas de uniformidade que se acredita exequíveis, sob um poder absoluto a respeito de bens e indivíduos. A Terra não é plana. Estamos na condição do homem vitruviano de Leonardo da Vinci. Autocomplacência para elucubrar num jogo intuitivo e racional.

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