Ainda encontro amigos, de tempos idos, que me perguntam sobre o “Manjar
branco no asfalto”. O “Manjar”, primaveras sem conta. Quinhentas páginas estrebucham
num sumidouro. Necessário situação envolvente para despertá-lo. Enquanto isso
vai se escrevendo o prólogo. O autor, titubeante. O livro, vivência dos dia a dia. Atividades domésticas, o
profissional improvisado, ora professor e facilitador de grupos, ora instrutor
de tênis, ora técnico dramático em hospital psiquiátrico, ora criador de grupos
de teatro, autor de adaptações, encenador e intérprete; questões de desrespeito
aos modos social-correto – logística
familiar feminina... As durações aqui são elásticas, anos mais, anos menos,
sempre pedagogo. Muita coisa procrastinada. Escrever todos os dias. A função de
blogueiro assumida é boa desculpa para não pegar o “Manjar”. Tudo resume a
tentativa de escrever. O mundo não se
renova segundo nosso tempo de estreia. A linguagem do “redigir é reduzir”
(G.W.G. Moraes), hoje na forma de tuítes, motiva. “Manjar” é testemunho de uma
época, familiar e social. Época de desejos mais do que de resultados produtivos.
No tuitar, contribuição no ensaio de esquemas, reflexões, posições críticas e
filosóficas. Redistribuição do que se vai assimilando. Emoção e razões, juntas.
Ocorrem hipotiposes – conceitos de aparência ou não doutrinários. Na articulação
generalizada e superficial pode-se notar clara intenção especulativa. Realidade
e ficção, interagindo no presentemente atual. Ao se aspirar um esboço mais conclusivo,
o interlocutor que se estabeleça. A autoria como primeiro alvo. “Você se contradiz”, disseram.
Resposta: “Por que não?” Hipotiposes não passam de rascunho de ideias a abalar as
do crediário da razão. A resistirem, páginas
de um original em circunferência, acomodado.
O romance começou faz mais de duas décadas. Efetivo no início, a compensar
fase de convalescença em que a pretensão era acatar a convivência com dores. Prolongada
reflexão sobre o acontecido – desastre automobilístico em que quase se perde um
braço. Hoje, o “Manjar”pode transformar-se em póstumo livro “cult”. Longo prólogo,
até lá. Partes do prefácio em cadernos e blogs. Sugestões de técnicas literárias
sorvidas aqui e ali. Mexer na coisa meio sumida, um possível no que é tão datado?
Correções ao dorminhoco, grande em tamanho, incluindo o complemento de tuítes a
respeito da inédita corrupção na política
atual . Livro não se corrige, abandona. Achar preciso mais espaço e tranquilidade
para escrever, condição, sem a qual não se retomaria o “Manjar”. A atitude demonstra
não aceite ao vivido tridimensional . Não se caminha em superfície plana e retilínea.
O realizado em artes visuais e literatura
sobrepõe esfera e quadrado. Os espaços
são curvos, não se muda de lugar em
linha reta. Como nos encaixamos no mundo? Por trás das espirais, qual a matemática?
Não gostar de comportamentos em massa, nem de ficar atacando este ou aquele, o
que contraria mudos desejos (pelo menos mudos). O homem não é estável, como
todo organismo vivo. Longe a condição dos quimicamente iguais. Cadáveres? Aliás,
nem estes “vivem” na imobilidade. Ficar longe do assunto politiquice, quando somos
também responsáveis pelo que acontece na sociedade, leva a ir atrás da vasta
rede de relações – a “teia da vida”. Para compreendê-la não bastam “porquês”. Estruturas
se mostram através do “como”. Investigação
quanto a propósitos, princípios, artes e ciências, humanidades e tecnologias. As
obras da natureza, interligadas, interagem. Formam uma unidade multifacetada,
plena de padrões a serem reconhecidos. Não adianta pretender estar num patamar
inconsútil, com metas de uniformidade que se acredita exequíveis, sob um poder
absoluto a respeito de bens e indivíduos. A Terra não é plana. Estamos na
condição do homem vitruviano de
Leonardo da Vinci. Autocomplacência para elucubrar num jogo intuitivo e racional.
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