18/03/2018

O BELO E O FEIO



Chamo os meus tuítes de hipotiposes. A troco de quê, um termo esquisitérrimo desses? Tuítes, já uma inovação de nossa época digital e de Internet. Palavras e conceitos, em blocos de até 140 caracteres, padrão exigido pelo Twitter. Aprendi com o linguista G.W.G. Moraes, grande e saudoso amigo, que redigir é reduzir. Reduzir para essencializar, escrevendo principalmente com substantivos e verbos. Aluno rebelde, agora, faço um texto delirante. No meu ipansotera.blogspot.com sei que o acesso fica restrito a outros agitados como eu. Mas vamos lá. Tuítes, hipotiposes, “redigir é reduzir”... Enfim, de qual baú saíram as hipotiposes? Por certo, na minha fase uspiana (anos 60 e 70), elas surgiram aos meus olhos ou ouvi dizer. Hipotiposes pirronianas. Pirro de Elide (270 a.C.) – o Google me ajuda – filósofo e pintor, cuja tese fundamental era a necessidade de suspender o assentimento. Duvidar de tudo? Eu que acredito na “dúvida metódica”, vejo Kant indo além de Descartes: A beleza é a hipotipose da moralidade, ou seja, a sua vigorosa manifestação intuitiva. As palavras são simples expressões dos conceitos. Hipotiposes como esboços de ideias para reflexões mais aprofundadas. Esboços próximos da linguagem da Programática de Moraes e do Yin e Yang. Minha interpretação do ceticismo é não vê-lo como fechamento total a dado conhecimento, mas como ponto de partida. Atitude para se chegar a uma equilibração (equilíbrio que nunca se conclui). Não rejeitar o aparente. Fenômenos, por mais estranhos, assim como certas ideias e teorias, podem nos despertar para o indizível ou não comunicável, novas relações numa totalidade. O que amplia a consciência. O mundo na moldura do saber. Declarações como “natureza perfeita”, “clara realidade”, “finalismos absolutos” e enfoques lineares (começo, meio e fim), em geral, têm mais a ver com indeterminação. Que decorra das hipotiposes certa ataraxia (ausência de perturbação) com “verdades” e “falsidades” isso ajuda a não se curvar à aparência sensível e às injunções do social. Como diretriz teríamos disposições para não se cair na vala comum do belo e do feio, do bom e do ruim, dos nomes que fortalecem o poder do sagrado e do profano, do culto e do inculto, da ciência e da religião. Menos alimento para a cultura da clivagem do certo e do errado. Hipotiposes ensejariam profícientes aberturas. E vigorosas manifestações intuitivas.              

                                   (impansotera.blogspot.com e Facebook, 18-3-18)

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