Chamo os meus tuítes de hipotiposes. A
troco de quê, um termo esquisitérrimo desses? Tuítes, já uma inovação de nossa
época digital e de Internet. Palavras e conceitos, em blocos de até 140
caracteres, padrão exigido pelo Twitter. Aprendi com o linguista G.W.G. Moraes,
grande e saudoso amigo, que redigir é reduzir. Reduzir para essencializar,
escrevendo principalmente com substantivos e verbos. Aluno rebelde, agora, faço
um texto delirante. No meu ipansotera.blogspot.com sei que o acesso fica restrito a outros agitados como eu. Mas vamos lá. Tuítes,
hipotiposes, “redigir é reduzir”... Enfim, de qual baú saíram as hipotiposes? Por
certo, na minha fase uspiana (anos 60 e 70), elas surgiram aos meus olhos ou
ouvi dizer. Hipotiposes pirronianas. Pirro de Elide (270 a.C.) – o Google me ajuda
– filósofo e pintor, cuja tese fundamental era a necessidade de suspender o
assentimento. Duvidar de tudo? Eu que acredito na “dúvida metódica”, vejo Kant
indo além de Descartes: A beleza é a hipotipose da moralidade, ou seja, a sua
vigorosa manifestação intuitiva. As palavras são simples expressões dos
conceitos. Hipotiposes como esboços de ideias para reflexões mais aprofundadas.
Esboços próximos da linguagem da Programática de Moraes e do Yin e Yang. Minha
interpretação do ceticismo é não vê-lo como fechamento total a dado conhecimento,
mas como ponto de partida. Atitude para se chegar a uma equilibração
(equilíbrio que nunca se conclui). Não rejeitar o aparente. Fenômenos, por mais
estranhos, assim como certas ideias e teorias, podem nos despertar para o
indizível ou não comunicável, novas relações numa totalidade. O que amplia a
consciência. O mundo na moldura do saber. Declarações como “natureza perfeita”,
“clara realidade”, “finalismos absolutos” e enfoques lineares (começo, meio e
fim), em geral, têm mais a ver com indeterminação. Que decorra das hipotiposes certa
ataraxia (ausência de perturbação) com “verdades” e “falsidades” isso ajuda a
não se curvar à aparência sensível e às injunções do social. Como diretriz teríamos
disposições para não se cair na vala comum do belo e do feio, do bom e do ruim,
dos nomes que fortalecem o poder do sagrado e do profano, do culto e do inculto,
da ciência e da religião. Menos alimento para a cultura da clivagem do certo e
do errado. Hipotiposes ensejariam profícientes aberturas. E vigorosas manifestações
intuitivas.
(impansotera.blogspot.com
e Facebook, 18-3-18)
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