A
Av. N. Sra. do Sion, com a casa do protagonista, não dá as caras no “Manjar”.
Se a casa falasse, com a própria alma e as cores dos donos e das pessoas da
família, nomes e idades, incluindo visitantes e correliginários, surgiria algo
atemporal e simbólico. A ver com a experiência de quem mora e passa na
delimitação geográfica da entrada para a Pedra Grande. A obra está embebida da
cadência efusiva de espírito doméstico preservacionista. Há aí também um
espiritualismo que não aceita a matéria como matéria. Algo quântico, pouco
definível. Mantém-se encapsulado o que é utilitário, funcional e tende a
descambar para o individualismo violento dos tempos. A avenida era de terra,
hoje de asfalto, via crúcis de chagas pela velocidade progressista. Melancolia
e expansividade. Morte e atropelamento de pessoas e animais (esquilos, gatos,
cavalos). Residências novas, mentes e cubos lisos de concreto aparente, com
câmeras registradoras no entorno. A mais próxima da casa do “Manjar”, logo ao
terminar, gente morando, foi assaltada. Além do “Manjar”, outros livros largam
na espera de lançamentos. A demora, sina do autor, pela pegada literária. Temas
a serem trabalhados de forma ficcional, poética ou como documentos para a
ciência social. A noção de identidade construída ou não. Ser um pós-modernista avant La lettre – dúvida do autor. Nada
de aprofundar elementos subjetivos como gênero, classe e sexualidade. Hoje,
isso parece indissociável. Ir na contramão sem
pensar essas questões no lugar comum da clivagem do certo e do errado. A
produção do autor não se resume a denunciar mazelas. No crisol das artes muitas
temperadas sem faltar workshops de
sensibilização e sugestões pedagógicas. Aqui a supremacia das vivências face ao
bla,bla,blá cognitivo. O “Manjar” embala o que marca o tatear no mundo complexo
do conhecimento. A educação e a política, hoje, se encontram numa berlinda.
Coisa de uma república e democracia quase esfaceladas. Momento da radicalização
direita-esquerda, em luta materializada. Prisões cada vez mais atulhadas de
gente, crime organizado dentro e fora das grades, centração política em
dinheiro e bens para parlamentares e empresários. A preocupação maior do autor
é com a vivência no território da família e dos empregos, o sonho alimentado
pelos livros e filmes, as exigências da
anima no sexo aventureiro e na sensualidade das ruas, das classes e das
escolas. Daí sempre o predomínio dos conceitos vivenciados. O teatro e suas
peculiaridades dramáticas (ação e assunto). Em Filosofia sempre a busca de uma
práxis. A contracultura em ebulição cognitiva, motor-agente de descobertas. O
papel da religiosidade em que mortos falam e vivos encenam. Desconstruir
estereótipos e condicionamentos vira meta existencial. As coisas, mais
importantes do que as palavras, estas servindo para nomear o dito. Vivências
vivem em camadas a serem desbravadas.
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