18/08/2018



AGIR OU INTUIR

A realidade não é o que se me apresenta aos sentidos. Tudo problemático e falho. O que chamo de objetivo, claro, evidente, é o que me impuseram como real. Posso, ao enfrentar a angústia, subtrair algo daí. O que chamam de “devaneio” do artista é o que corresponde a esse estado. Faz parte de idealizações imaginativas no ato tido como criador, processo associativo de figuras, cores e formas. Linhas que, muitas vezes, o autor nem sabe como as colocou na composição. Uma superfície ou mancha chega a ter papel decisivo no equilíbrio dos elementos enquadrados. Para o artista, a realidade não passa de uma coisa una. Por que não a duplicar para que o entendimento aconteça? Talvez a gente se perca aí... Na posição do artista, mais real é a família ou o trabalho? A acumulação de bens ou o desprezo por posses? A união cartorial ou o simples acasalamento? Parecer isto ou aquilo? O ato ajuda a lidar com essa angústia. O artista costuma ter o impulso da intuição ao encontrar a porta aberta. Agir ou intuir com o real? Literatura e poesia, um caminho. É quando se poderá atingir a raiz dos próprios desejos. Na atividade literária ou artística, a expressão utilizada não exige ser compreendida. O surrealismo, por exemplo, age como forma de vida. Entra no cotidiano, na ética, na estética, na filosofia, na ciência. Sentimos a dificuldade de dizer o que queremos e de ouvir o que não queremos.

(Miniatura dos meus cajados. Obra exposta no Centro de Convenções Victor Brecheret, Atibaia. Mostra do Olho Latino.)


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