Nas famílias, por mais felizes que
sejam ressentimentos recalcados podem emergir quando menos se espera. Amantes
eternos chegam a virar inimigos eternos? Sobre o sentido de “eternidade”, diz o
filósofo pré-socrático Heráclito: “o
mundo era desde sempre, é e será fogo sempre vivo que se acende a intervalos e
a intervalos se apaga”. Tempo de namoro, casamento, filhos... Num futuro
próximo ou distante pode ocorrer a disputa pela custódia dos filhos. Sendo
contra ou pelo medo do pai, por ofender de alguma forma a mãe, acontece de os filhos
não quererem partilhar a existência com ele. O pai não se conforma. Acusa a mãe
de manipulações. A separação tende a se tornar litigiosa. É quando o caldo se
derrama, embora possa ser recolhido. A família do marido o defende; o mesmo
acontece com os parentes da esposa. Qualquer argumento parece válido nessa
hora. Quem ganha ou perde, área judicial. Rejeitado pela mulher e pelos filhos,
o pai se transforma em lobo. É o início da sua desintegração social. O ódio
pela ex-mulher pode suplantar o amor pelos filhos. Nessa situação de
brutalidade instintiva chega a aparecer nua e crua a condição humana. Como
renunciar às próprias vaidades e frustrações? Uma liberdade radical e mortal
existe na selva, onde “o homem é o lobo do homem”. Necessário para que haja civilização,
em suma, que o homem renuncie a ganhos imediatos em nome de um bem maior: a paz
e a segurança possíveis para todos. Sem esse sacrifício não teríamos saído das
cavernas. Estaríamos distantes de uma cultura cívica exigível pela experiência cooperativa
e solidária. Sabemos como é difícil abrir mão dos interesses imediatos e das
mínimas conveniências momentâneas. O sentimento do “nós” (reciprocidade) e o
diálogo (sem estrito confronto) existem para todos – família, políticos,
cidadãos, como vivência irremediável. Trata-se realmente de um sacrifício? E
aqui nem se falou no perdoar e no amor ao próximo como a si mesmo. Nada é mais
forte do que o amor.
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