A
denúncia detalhada de que homens seriam substituídos por máquinas – matéria do
Jornal Livre, atribuída a Saint Dennis –, encontra respaldo no que João Pereira
Coutinho publicou na Folha de 29/7/2014. Um termo estranho que me calou foi o
“pais-helicóptero”. Estes que realizam uma “brutal amputação da infância e da
adolescência”. Crianças precisam brincar e se relacionar com amiguinhos. Eu construía
meu arco e flecha de bambu, subia em árvores, jogava bolinha de gude na rua de
terra perto de casa. Mais tarde, na adolescência, participava de pelada (futebol)
num terreno em pequeno descampado na Rua Comendador Souza, perto do campo do
Nacional, na Água Branca, São Paulo. O terreno ficava diante da minha casa. Meu
irmão dizia: Lá está Jesus e as criancinhas.
“Os ‘pais-helicópteros’
ligam os tablets e anestesiam os filhos com a dose apropriada de pixels.”
Adorei esta ironia de Coutinho que começa sua matéria “Carnes Vivas” dizendo
que passava longas horas na rua (não as de hoje, claro), sem que ninguém o
supervisionasse, e que subia em árvores como um “Tarzan de nove anos”. É
natural desejar o melhor para os filhos e para os cidadãos. Que tal, como faz
pensar o artigo de Saint Dennis, a engenharia genética produzindo descendências
perfeitas? Que adultos vamos ter, se nos primeiros anos de vida, não houvesse a
sensação de liberdade? No caso, a percepção dos riscos e dos acidentes corridos
seria compensada pela confiança e pela intuição de que o mundo não é uma ameaça
constante. Hoje, assistindo diariamente à mídia televisiva temos outro fator a
influir: a imagem de assaltos, crimes e prevaricações de todo tipo, além da
corrupção política. É. Os cidadãos precisam melhorar, talvez com chips para
sabermos o que fazem, onde estão, o que tramam. Aí, pais e
administradores-helicópteros nos ensinariam a não amar incondicionalmente.
Nenhum ser humano é produto a obedecer caprichos de quem quer que seja.
Aparelhos, simulacros de consciência com sentimentos, todo o mundo
geolocalizado, podem se tornar verdadeiras pragas. Coutinho termina o
artigo:”Na minha infância, as únicas medalhas que colecionei são as cicatrizes
que trago no corpo. Não as troco por nada.”
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