30/07/2014

QUERER SABER TUDO SOBRE TODOS



A denúncia detalhada de que homens seriam substituídos por máquinas – matéria do Jornal Livre, atribuída a Saint Dennis –, encontra respaldo no que João Pereira Coutinho publicou na Folha de 29/7/2014. Um termo estranho que me calou foi o “pais-helicóptero”. Estes que realizam uma “brutal amputação da infância e da adolescência”. Crianças precisam brincar e se relacionar com amiguinhos. Eu construía meu arco e flecha de bambu, subia em árvores, jogava bolinha de gude na rua de terra perto de casa. Mais tarde, na adolescência, participava de pelada (futebol) num terreno em pequeno descampado na Rua Comendador Souza, perto do campo do Nacional, na Água Branca, São Paulo. O terreno ficava diante da minha casa. Meu irmão dizia: Lá está Jesus e as criancinhas.
“Os ‘pais-helicópteros’ ligam os tablets e anestesiam os filhos com a dose apropriada de pixels.” Adorei esta ironia de Coutinho que começa sua matéria “Carnes Vivas” dizendo que passava longas horas na rua (não as de hoje, claro), sem que ninguém o supervisionasse, e que subia em árvores como um “Tarzan de nove anos”. É natural desejar o melhor para os filhos e para os cidadãos. Que tal, como faz pensar o artigo de Saint Dennis, a engenharia genética produzindo descendências perfeitas? Que adultos vamos ter, se nos primeiros anos de vida, não houvesse a sensação de liberdade? No caso, a percepção dos riscos e dos acidentes corridos seria compensada pela confiança e pela intuição de que o mundo não é uma ameaça constante. Hoje, assistindo diariamente à mídia televisiva temos outro fator a influir: a imagem de assaltos, crimes e prevaricações de todo tipo, além da corrupção política. É. Os cidadãos precisam melhorar, talvez com chips para sabermos o que fazem, onde estão, o que tramam. Aí, pais e administradores-helicópteros nos ensinariam a não amar incondicionalmente. Nenhum ser humano é produto a obedecer caprichos de quem quer que seja. Aparelhos, simulacros de consciência com sentimentos, todo o mundo geolocalizado, podem se tornar verdadeiras pragas. Coutinho termina o artigo:”Na minha infância, as únicas medalhas que colecionei são as cicatrizes que trago no corpo. Não as troco por nada.”   

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