PALAVRAS E AÇÃO

Sobre a minha postura tenho merecido críticas, pela condição de ser visto como intelectual, pouco prático, pessoa que foge da convivência social e, por vezes, familiar. Chegam as crianças e outras pessoas queridas. Eu me envolvo menos, longe da dedicação full time da Maria. Fujo para uma das minhas cavernas, vou ler e/ou escrever, pintar. A aproximação de outros, faísca para acionar o motor da mente. Aceito, cada vez menos, o mundo em que vivo. Talvez mantenha o mínimo indispensável, limite da exoneração total face a costumes e padrões sob a égide do mercado. Hoje, mais do que sempre, “desempregado”. (Gostaria de escrever tudo com aspas ou parêntesis.) Eu me sigo, preferencialmente e, claro, gero problemas com parentes e amigos que muito estimo. Vivo a pulsação do “empurra e agarra”, mais empurrando do que agarrando. Falo de pessoas... Sei que até o “amor” sofre com isso. Mas o ponto em que eu quero tocar são os pratos da balança “pensar e agir”, “palavras e prática”. Escrever, literatura, arte... Aprendi que pensamento também é ação. Escrever, forma de ação do cognitivo. Ação, reação, doação. Existe o preconceito de que ação e doação são só tarefas do corpo separado da mente intelectiva. Exigem o empenho das mãos que tocam e das pernas que caminham. É você sair da cama e da cadeira em atos de conjunção com o outro... Como se a espiritualidade tivesse pouco a ver com os dedos e canetadas, teclas e pontos de onde nascem palavras, imagens... e o amor. A imaginação literária e pictórica, musical e poética não se desvincula da vida de relação. O intelectual não é peça de museu, sujeito inativo, sorumbático, ainda que haja gente assim. Até entre os práticos. É vital na cultura, no imaginário, fonte de renovação face ao homem e ao mundo.