MEMÓRIA INCONSCIENTE
Novas luzes e
associações
Meus escritos de ficção e cunho autobiográfico aguardam maior impulso
restaurador. Alguns de anos. E ponho anos nisso. Enquanto o anjo amigo não vem,
por vezes surgem ideias numa autocrítica que vejo como inspiradora. Sou um
escritor de frequentes leituras. Novas maneiras de juntar palavras, frases novas, diferentes gêneros textuais. Chego a considerar
parágrafos que mudam de lugar (Borges), e o ato de mesclar meus blogs com palavras
e imagens vividas e lembradas. Talvez no romance “Manjar...” valeria uma segunda
parte com o que hoje mais me importa. Não ter medo de estereótipos, o já feito,
além de lances de autoajuda declarada. Qual a obra literária que não desempenha esse papel? Somos assim... Eu me canso de negá-lo.
Pertencemos a uma classe média intelectualizada, com laivos
acadêmicos e professorais. O não-linear, descontínuo, o questionamento mais do
que o contar, o encontro por associação de termos pelo ritmo e pelos sons... Daí
eu gostar de ler alto o que escrevo.
Literatura pode ser algo híbrido: crônica, carta, diário, relato,
narrativa ficcional, como nas centenas de páginas dos meus “Cadernos do Beiral”.
Hoje estou no 29, média de 200 a 400 páginas por edição. Palavras e imagens.
Opção a ser encarada: alternância da primeira e terceira pessoas,
até com certa regularidade.
É do meu estilo na arte e na vida ser pouco ou nada conclusivo. Expressão,
no sentido germânico, metade da essência do fato, até deformado, que não costuma
ser explícita.
Aonde fica a coragem de
ousar? Seria ousar, numa escrita sem especialidade, enfocando, não como coisa
estranha, a comunicação entre mortos e vivos? Se ela tem ocorrido, redutor
seria comentá-la só sob a égide do sagrado, ou para a patota dos afins.
Verdade e ficção, presente e passado, detalhes e modulações cuidados.
Se se trata de vida vivida, não se muda o curso do rio que conduz à foz. A
relação entre o humano e a máquina, sanidade e tecnologia, opressão e separação
entre classes, ou a existência de grupos confinados por imposições sociais
(dinheiro, raça, credo, partido político e outros fatores como moda e
costumes). As influências de segregação por qualquer fundamentalismo... A
atenção aqui se dirige à religião e aos
sistemas políticos fora das reais necessidades humanas de autorrealização
ética, moral, espiritual.
Na literatura e nas artes pretende-se uma vida nova? Palavras,
fotogramas são órgãos a cuidar. Como os fisiológicos do corpo e do espírito.
Sim... o espírito também possui funções biológicas. Tudo é matéria, umas mais
ou menos sutis. Outras formas vão sendo pesquisadas pelos cientistas.
Manter sintonia com o aspecto positivo das coisas. Coisas exigem
reverência, são criaturas. Senão, como se ajustar a outros níveis, a exigirem
percepções ainda não exercitadas? Sentir-se estranho em outros espaços-tempos? Nossa
tessitura espiritual requer aprimoramento no processo existencial. Basta sentir
e pensar para ser... Não só algo que se refira ao “cogito” de Descartes. Corpo
e mente, com seus órgãos, uma coisa só. Adquirir cultura e conhecimentos, uma
obrigação. Cultura é rede a propiciar relações enriquecedoras. Exemplo: Obra sobre
Garrincha, de Ruy Castro, e outra sobre Macunaíma, de Mario de Andrade...
Ambos, muito a ver um com o outro personagem. Falam do homem brasileiro. Cultura
produz novas luzes e associações.
Não dá para imaginar o que temos na memória inconsciente. São
“fatos” e possibilidades. Passado e futuro alternando-se. Lembramos o
esquecido, tristes ou confortadoras cenas, e passos de acertos para uma vida
melhor. Potencialidades e virtualidades, o escondido e o ainda não imaginado,
tudo na grande laranja do inconsciente.
Lembro meu interesse pelas semelhanças. Desde a época da
Faculdade, pelo contato com o estruturalismo, aprendo sobre a importância das diferenças.
Mais tarde veio a intuição mandálica de G.W.G. Moraes. Melhor para a compreensão
de estruturas. Uma aplicação prática: não obstante a dualidade em que a vida
flui, um terceiro elemento pode atenuar o choque no par de opostos (exemplo:
caso de um casal). Olha a autoajuda aqui.
Vida e morte. No processo, o diferente é como uma decantação. Morre-se
várias vezes para atingir a imortalidade.
Pessoas nos encontram sem que as localizemos no passado, às vezes
até muito próximo. Isso tem me ocorrido com alguma frequência. Trata-se de
estados imperceptíveis para nossa acanhada memória espaço-temporal.
Há informações (vejam lá!) de que isso ocorre comumente para os
que estão em outra dimensão. Na espiritual, sim, e também em nossa crosta. O
além não é uma região. Não se está aqui nem acolá.
Muitas vezes, certas vivências não foram tão intensas para serem
reaproveitadas. Nas densas e partilhadas é que se apreendem sensações e o que a
mente registra como ideias e fatos.
O bem registrado na memória tende a se conservar e expandir em
novas associações. Distingue-se o “estar com” e o “encontro”, diferenças
marcantes. No “encontro” se fortalece o alicerce para edificações posteriores.
A experiência se enriquece.
Entendemos que matéria é o que impressiona nossos sentidos. Mas
ela pode revelar estados não bem conhecidos – o etéreo e o sutil.
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