Há brutal desvantagem na relação da TV com o livro que você não lê. Ela impõe a frequência da leitura na passagem das cenas. Pelo fato de o telespectador não ter o domínio do ritmo, a TV se torna um fator que despersonaliza. Comum, diante de programas, a pessoa sentir sonolência. A adoção do aumento de volume no som dos comerciais, e o fato de, em geral, não se ter a possibilidade de adquirir os bens anunciados, viaja-se numa quimera. Ao mesmo tempo que se produz encantamento ou enfado trata-se de um voo em que as asas são cortadas. Talvez aqui nossa defesa sensorial. A linguagem mosaica na sucessão das imagens, com o aliado sonoro, ideias fáceis pipocando, condiciona-se a pessoa a pouco pensar, pouco refletir. O laço vai apertando, inevitável sucumbir no colo de Morfeu, filho de Sono, o mais gentil dos deuses mitológicos. Penso na despersonalização de quem, pela pobreza mental induzida, se enfraquece na ausência da própria individualidade. Bem diferentes esses momentos da situação em que se assiste a um filme. No encadeamento de fotogramas estão sequências a promover raciocínios, sentimentos e sensações, quando não até a intuição é provocada. Na bússola da psique, o ponteiro passa pelas funções pensamento, sentimento, sensação e intuição. O que tenho observado, principalmente com os mais chegados é que, por influência televisiva e das novelas lineares, advém a preguiça de ver cinema. Quem antes vibrava com longos filmes, até revendo-os, com o advento da televisão, perdeu interesse pelo cinema. Não só pelo tamanho da tela, a linguagem fácil na transmissão de conteúdos – palavras e imagens muito explicadas – ao que parece, tornou-se proibido pensar e refletir. TV dirige-se sobretudo ao sentimento e às sensações. Interessa o que sugere concretude e é decodificável mais facilmente. O abstrato conceitual perde terreno.
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