20/10/2013

A IDEIA ORIGINAL

Para realizar algo de certa complexidade, não se precisa partir logo da “ideia original”. É dar os primeiros passos. No caminho, o clarão do entendimento possui tempo próprio para acontecer. Guardar a ansiedade no bolso. A intuição diz quando se está fluindo na direção da ideia perseguida, ainda que ocorram desvios. Pode ser o caso de sentar e esperar ou de experimentar novos passos como se a “ideia original”, como um “motor movente” tivesse mudado. Lidar com incertezas, mesmo sentindo clareza na vivência do que interessa.  Importante se envolver até a medula, a gente num todo orgânico e unificado com o mundo. Também necessário não girar em parafuso, certo de que o sol nascerá com força suficiente em hora profética. Outras nuvens podem aparecer, como se movimentassem a esmo. O vagar delas não depende de um plano traçado e conhecido previamente. Na vida sempre há contraplanos, os olhos não veem só o que se gostariam de ver. Concentrar-se em uma coisa de cada vez. Ao focar a atenção, existe o que se desloca e o que vibra. Pode-se abrir um leque de novas possibilidades. Quem compreende o que não se apreende? No exercício perceptivo é a vida e suas nuances. Por vezes, ao se deparar com bloqueios, seja no organismo corpo ou ele na relação com o entorno, isso tem a ver com o fato de não se conseguir finalizar tarefas. Sempre a questão: o que é para manter ou desprezar? Quantas imagens, tidas como certas, se tornam impróprias. O que é inferior... e o que é superior? O que é melhor e o que é pior? Pensar e considerar relações prazerosas e o tedioso. Qual a compensação para a falta de afagos com os humanos mais próximos? O drama está no fato de se ter expectativa face ao outro. Este pode virar anjo ou demônio. Necessário um mínimo de serenidade que se insere no sentimento de satisfação individual. Sofremos com o além não alcançado. Achar que o mundo é um devedor... E nós? O que devemos ao mundo? Como evitar a presença avassaladora das frustrações emocionais? Até fórmulas fechadas de autoajuda podem ajudar... A busca da realização do próprio desejo chega a gerar intolerância entre as pessoas, umas como as outras. Vale insistir nisso, mas sem perder a noção de que a solidariedade é avis rara nos tempos atuais. Costuma ser dinamitada do todo à base. Há uma estratégia salvacionista no consumo de bens e serviços do mercado de felicidade. Satisfação pessoal e justiça coletiva carecem de se tornar compatíveis. Nossa modernidade está em crise... e falta espiritualidade. Mas crise, também, descerra a cortina do que não é cogumelo carnívoro. De tudo o que se busca e expressa o importante é atribuir um sentido à vida. Eis a forma de se posicionar no mundo, não perder a si mesmo, e atingir a “ideia original”. Esta pode ser isto ou aquilo, dependendo de quem a busca. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário