30/07/2010

SOBRE A MACONHA

Leio hoje, na Folha, matéria de acadêmicos e um psiquiatra, que ajudam a esclarecer pontos da minha postagem “Até que Ponto”, nos blogs do último dia 27.
Quando falo em “terreno minado”, entendo que temos liberdade para usar ou abusar de qualquer substância, dependendo da dose e de como é utilizada. Drogas mais leves podem servir para que se evitem as mais pesadas. Mas isso é só um aspecto do problema, até de menor importância. Sei que a tendência de quem criminaliza a maconha é vê-la como porta de entrada para as anfetaminas, cocaína, heroína e o que existe por aí a produzir efeitos altamente nocivos para a saúde. Minha experiência, ao trabalhar em hospital psiquiátrico para usuários de drogas, demonstra que certas substãncias psicoativas não podem estar ao alcance do dependente. Como disse na matéria, há drogas lícitas e ilícitas igualmente perigosas... Eu me referia a: álcool, tabaco, açúcar branco, sódio... São condenadas pelas medicinas ortodoxa e alternativa em várias situações. Eu mesmo, por ser hipertenso, devo me precaver do sal, das frituras e fazer caminhadas contra o sedentarismo. Durante vários anos como esportista (instrutor de tênis), hoje passo horas lendo e escrevendo. O fato de se obter prazer e benefícios psicológicos e físicos pelo uso da maconha pode revelar o seu papel terapêutico. O seu emprego medicinal avança nos EUA, Canadá e em outros países. Dizem os articulistas: “Dezenas de artigos científicos atestam a eficácia da maconha no tratamento de glaucoma, asma, dor crônica, ansiedade e dificuldades resultantes de quimioterapia, como náusea e perda de peso”.
Na minha matéria, quando falo em hipocrisia, penso na “falsificação de ideias” e o fato de a maconha não ser tirada da esfera policial, rumo à saúde pública. No final do artigo da Folha fala-se na estranheza causada por psiquiatras que “venham a público negar o potencial terapêutico da maconha, medicamento fitoterápico de baixo custo e sem patente em poder de companhias farmacêuticas”.

(Os autores da matéria, Folha de S. Paulo (30-7-2010), “Ciência e fraude no debate da maconha”: Sidarta Ribeiro, neurocientista; João R. L. Menezes, coordenador do simpósio sobre drogas da Reunião SBNeC/Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento/2010; Juliana Pimenta (psiquiatra); Stevens K. Rehen, professor adjunto da UFRJ.)

Um comentário:

  1. O número de mortes causadas por acidentes de trânsito, anualmente, é MUITO maior do que as decorrentes do uso de qualquer substancia ilícita. Nem por isso se debate a criminalização do uso de automóveis... O sujeito que fez o filme Big Size Me, após 3 meses de consumo frequente dos produtos do McDonalds, beirou a obesidade mórbida. Nem por isso se criminaliza o uso de Big Macs... Afinal, cada um se mata como prefere. Inclusive, viver mata!

    O preconceito contra a maconha é ideológico e social: fosse ela um consumo tradicionalmente branco, europeu e cristão, seria tão aceita quanto o álcool...

    Há problemas muuuuito maiores, e o fato é que se faz da maconha e das drogas ilícitas o 'bode espiatório' dos problemas sociais. Quais os maiores problemas da favela, senão os de habitação, saúde, emprego, saneamento, infra estrutura? Como é difícil de encará-los... Muito mais fácil e simplista dizer que o problema são as 'drogas', não é mesmo? Basta mandar a polícia lá, invadir casas e matar alguns pretos, que a clase média, em seus confortáveia sofás, fica mais tranquila...

    Enquanto se discute 'o demônio maconha', o crack, o ecstay, os remédios tarja preta, a novela das oito e o big brother comem solto. E as vendas de automovel não param de crescer...

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