À frente da consciência
Tive a minha fase de amor pelo futebol. Garoto, colecionava figurinhas, jogava “bafo” (quando batendo com a mão em concha a gente ganhava pelo número maior de vezes em que se virava a figurinha). Do encoberto ao revelado. Assistia meus ídolos em campo, quando adolescente. Torcia-se e gritava com os gols, erros e acertos. Quando adulto passei a vibrar nas copas, ou em algum final de campeonato, só aí. Hoje é assim, com o meu interesse mais esfriado e racional. Ainda que o livro “Veneno Remédio”, de José Miguel Wisnik, me tenha despertado a atenção para a vida que é o futebol, o impulso de gritar pelas jogadas do meu time (volto a ele, depois de meio século), rareia. Ganhe ou perca, me sinto entorpecido. Nem sei de cor sua escalação. A única que tenho na cabeça é a do Mário, Savério e Mauro... Bauer, Rui e Noronha... Época do Leônidas, o “diamante negro”. Quero saber o nome dos jogadores, e só guardo alguns, os que muito sobressaem: Rogério Ceni (marcador de gols), Fernandão... que substitui Washington. Acabei de ler crônica do Tostão. Futebol é “o jogo da vida”, não só reflexo do que acontece socialmente. Desafio e resposta estão aí, é como caminham as civilizações. Filosofia, sociologia, psicanálise, antropologia e crítica estética servem como instrumentos para se pensar o futebol. E fora da gélida reflexão intelectual, a paixão de bilhões pelo mundo afora. Aquele documentário sobre o Brasil jogando no Haiti mostra o frenesi da população como nunca se viu. Voltando ao Tostão, “Tudo certo e incerto”, crônica de 6 de junho, na Folha, parafraseando Woody Allen, “quando acontecerem os jogos equilibrados das fases de mata-mata, tudo pode dar certo ou errado”. Verdade acaciana para o homem exemplar. Nos démarches da vida, o que está por trás, nos contextos, pode nos surpreender para o bem ou para o mal. Espero vibrar com a copa, resgatando um emocional carcomido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário